Contemporânea #3

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Contemporânea #3 (revista)

Maio 2019

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Esculpir o Tempo [1]

— múltiplas perspectivas, ideias e tangibilidades

Que formas assume a manifestação do presente? Pode uma publicação configurar esse desígnio? “Ser” um objecto e meio privilegiado de produção e diálogo artístico? Assumir-se como lugar de definição, disseminação e mediação das estruturas relacionais da arte, público e teoria? Como plataforma colaborativa onde arte e ideias, públicos especializados e outras esferas públicas constroem narrativas e dialogam? Poderá uma estratégia colaborativa e de proximidade fornecer uma melhor leitura e compreensão da realidade? Não obstante, as contradições, problemáticas e dificuldades que opera, deveria constituir, na sua essência, um acto político de resistência sobre a verdade da arte [2]. No entanto, enquanto espaço aberto ao pensamento, cabe sempre aos leitores decidirem a sua utilidade e pertinência.

A Contemporânea impressa, na sua vertente temática e curatorial, assume um formato próximo ao de uma “colecção pública”, um arquivo de memória, do seu tempo, que, de certa forma, resgata o papel imposto pela sua etimologia (inglês magazine; do árabe makhzan: armazém). Ou revista (do latim rever: dar a ver). Um discurso processual da história dos objectos a que pertence.

O foco principal destas edições temáticas reside no seu aspecto colaborativo, entre artistas, ensaístas, críticos, editores, designers e tradutores. Esta edição especial problematiza as várias dinâmicas associadas à escultura contemporânea projectando um olhar para a prática de mais de trinta artistas. Inclui seis ensaios visuais, vinte e dois ensaios escritos e três entrevistas. Comum a todos o questionamento da definição de escultura, através da história da arte, da memória e da materialidade.

Em 1979, há precisamente 40 anos, Rosalind Krauss, publicou um ensaio seminal — Sculpture in the Expanded Field [3] — na revista October, que em 1976 ajudou a fundar. A autora aponta para um novo paradigma nos discursos escultóricos, nomeando uma ruptura histórica realizada por artistas como Richard Serra, Robert Smithson, Walter De Maria, Robert Morris, Bruce Nauman, entre outros. Apresentando os princípios estruturais da escultura, arquitectura e Land Art, Krauss tenta esclarecer o que essas práticas representam e como se poderiam transformar.

O que mudou em 40 anos? A discussão prossegue, expandindo-se para tantas outras novas direcções. Isto prova que se o ensaio de Krauss teve o impacto que teve foi por motivos válidos e, precisamente, porque continua a ser uma referência “hoje”.

Esta edição da Contemporânea prolonga o debate e ensaia um pensamento sobre as possibilidades da linguagem escultórica. Reflectindo sobre as novas abordagens conceptuais, formais e as suas particularidades definidoras. Que métodos, linguagens e propósitos assume a escultura na prática artística contemporânea? Extensiva a uma variedade de elementos, materiais e disciplinas, estende-se e interliga outras áreas do conhecimento, como a sociologia, filosofia ou biologia, a programas de computador, animais, insectos e microrganismos. Vive no seu tempo, especulativo, incerto, delirante.

Os universos artísticos presentes nesta edição são diversos mas exploram todos aspectos fundamentais do pensamento escultórico desafiando os próprios limites, a condição de ausência de medium [4] e a própria arteAmpliando, assim, as suas possibilidades. Apresentam e observam diferentes realidades por vezes complexas, inacessíveis, instáveis, caleidoscópicas; são matéria em transformação, cintilante e frágil.

Porque através do tempo, através da matéria, olhos nos olhos, contemplamos a vida; na sua bela e lenta catástrofe.

Celina Brás

Fundadora e directora da revista Contemporânea

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