«Sentado num degrau da escada estava um sema.
O seu aspecto era semelhante ao duma salsicha azul-clara.
Todos os que o viam achavam estranho e diziam: é metafísico.
Ninguém reparava que era azul.»
[Ana Hatherly, «Tisana 138», 463 Tisanas]
Este livro foi publicado por ocasião da exposição «Ana Hatherly: Território Anagramático», realizada na Fundação Carmona e Costa, com curadoria de João Silvério, entre 17 de Novembro de 2017 e 13 de Janeiro de 2018.
A exposição «Ana Hatherly: Território Anagramático» toma a obra escrita pela autora sob o título Tisanas como uma grelha estrutural para dar a ver o seu trabalho artístico e os cruzamentos que esse mesmo trabalho revela ao nível do pensamento, da escrita, da performance e das preocupações da artista, que se manifestam sobre contextos diversos e em diferentes meios de expressão escrita e plástica.
[João Silvério]
Como um mergulhador, Ana Hatherly vem à superfície para recuperar o fôlego e logo se embrenha nas profundezas. Porém não é só isso, é que dela, deste poeta-artista, só ficarão essas breves tomadas de fôlego, essas minúsculas bolsas de ar agarradas, um contraste menor, às palavras, aos riscos, aos silvos, bolsas de ar que não se vêem, não se lêem, nem se ouvem, talvez se adivinhem (leia-se um dos poemas de Cisne Intacto, 54).
[Maria Filomena Molder]
A obra visual de Ana Hatherly é caracterizada pela gestualidade, pelo movimento da mão que cria inquietas linhas de texto, densas texturas, inomináveis volumes, múltiplas formas que continuamente se (trans)formam, que sugerem itinerários, significações diversas, procedimento para transmitir graficamente uma poética que, sendo também verbal, se metamorfoseia e se evidencia na visualidade. Nas caligrafias, as palavras/versos são inscritos na página como trilhos a percorrer ao sabor da «imaginação e da memória» de cada um.
[Fernando Aguiar]