Liberto Cruz – Gramática Portuguesa

10.00

Gramática Histórica – Liberto Cruz
ISBN: 9789898063168
09-2007, Roma Editora
Português
158 x 228 x 5 mm
Capa mole
139p.

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Colaborador da revista Poesia Experimental (1964 e 1966), Liberto Cruz é o autor de uma das obras mais notáveis do experimentalismo português: Gramática Histórica (Funchal, 1971). Este livro, que, como nos lembra o autor na “Nota desounecessária dos autores” da edição de 2007, esgota numa semana, tem como objetivo desconstruir paródica e satiricamente a linguagem e a ideologia do regime salazarista. Quando a crítica oficial se apercebe do registo subversivo dos textos, já todos os exemplares estavam nas mãos de “atentos e desobedientes leitores” (10). Liberto Cruz dá ao seu apontamento introdutório um título irónico, “Nota desounecessária dos autores”, porque na primeira edição ele oculta a sua identidade sob um pseudónimo: Álvaro Neto, que, em 1966, no segundo e último caderno da Poesia Experimental, aparece como autor de vários poemas. Esta Gramática Histórica, produzida entre 1962 e 1966, “revisita”, como escreve João Fernandes num dos prefácios que acompanham a segunda edição, “categorias e fórmulas de uma gramática tradicional, utilizando porém práticas da Poesia Visual e Experimental do século XX que revolucionaram a literatura e as artes visuais no contexto português e no contexto internacional” (12). O livro, organizado ironicamente em quatro partes, que correspondem às áreas fundamentais da linguística (Fonética, Morfologia, Sintaxe, Semântica), apoia-se nesse movimento de dissecação e reconstrução de Portugal e da sua gramática oficial. Gramática Histórica é um livro que se assume como experimentação e jogo lúdico, como poética e conhecimento social e histórico. Liberto Cruz desmonta, recompõe e associa palavras, destaca e combina grafemas, cria uma arrojada sintaxe visual e significante: propõe uma nova gramática, um novo discurso, um novo pensamento. Cada texto, do mais breve, como as “Frases idiocráticas” ou os “Provérbios”, ao mais longo, como as “Minutas de requerimentos, atas, ofícios e atestados” , é um exercício de inteligência criativa, estética e ética: “É um grande prazer estar entre esta gente calma, paciente, ordeira, resignada, crente, esta gente bem portuguesa” (82); “Um verdadeiro português contenta-se com um quarto de pão e uma sardinha assada” (83); “Emigrar ou não emigrar/ eis a questão” (108); “É preciso trocar o certo pelo incerto” (109). A atividade lúdica, que E. M. de Melo e Castro valoriza como “parte vital do ato crítico desmitificador (sob a forma de ironia) e, indo mais longe, como via de descoberta e criação” (207. Sublinhados no original), entra como força vital de transgressão, invenção e liberdade.

Carlos Nogueira

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