«Viver em clausura ou abrir-se ao outro»: esta era a alternativa a que se pretenderia reduzir todo o povo que reclamasse o direito a falar a sua língua. Assim se legitimavam premissas herdadas de uma dominação secular. Ou falam uma língua «universal» (ou que tende a sê-lo) e participam na vida do mundo, ou fecham-se no vosso idioma particular, tão inapto para ser partilhado, e então isolam-se do mundo e vivem sós e estéreis na vossa pretensa identidade.
O errante recusa o estatuto universal, generalizante, que reduzia o mundo a uma evidência transparente, atribuindo-lhe um sentido e uma finalidade pressupostos. Mergulha nas opacidades da parte do mundo a que acede.
A crioulização conduz-nos assim à aventura do multilinguismo e à explosão inaudita das culturas. Mas a explosão das culturas não significa a sua dispersão nem a sua diluição mútua. Trata-se da marca violenta da sua partilha consentida, não imposta.